sábado, 19 de outubro de 2013

Ex Isto


... usque consumatio doloris legendi” (leitura penosa até a consumação)

Publicado em 23/08/2013
Ex Isto

Um filme livremente inspirado na obra Catatau, de Paulo Leminski. O poeta imaginou uma hipótese histórica: "E se René Descartes tivesse vindo ao Brasil com Maurício de Nassau?". Interpretado por João Miguel, o personagem envereda pelos trópicos, selvagem e contemporâneo, sob o efeito de ervas alucinógenas, investigando questões da geometria e da ótica diante de um mundo absolutamente estranho.

quarta-feira, 24 de abril de 2013



Os 'brasis' de Ozires Silva e FHC

Caros geonautas,
A história de Ozires Silva - fundador da Embraer, e a história de FHC - o príncipe dos intelectuais da “elite marginal”, são histórias de dois brasis.
No vídeo abaixo, fiz a transcrição de parte das palavras de Ozires Silva, esse cidadão brasileira da linhagem de uma elite rara, que pouco se fala, de tão rara, porque pouco há, da raiz de um Brasil nacionalista que nasceu – e ainda não vingou - com Euclides da Cunha no fim do século XIX.
Ozires Silva diz a certa altura:
(...) “De modo que eu diria para vocês, meus amigos, nós temos respostas para desenvolvimento, ...., pensem grande, quer dizer, não fiquem como cidadão de segunda classe, achando que o hemisfério norte vai resolver os problemas que nós precisamos, isso quer dizer, se nós tivermos problemas para resolver, nós podemos encontrar solução e abrir oportunidades, ....
No meu texto, de 07-10-12, que virou post (Não somos ocidentais de segunda classe), FHC disse na palestra de Dominique Moïsi,  somos ocidentais de segunda classe”, na qual eu não me aguentei, e soltei os cachorros, confira o post.
Confesso que venho a tempo numa perspectiva não muito otimista para as próximas décadas, do ponto de vista de o Brasil se tornar uma nação soberana como nação e na geopolítica, que é diferente da perspectiva econômica, como o texto:  O “Brasil Nação” hoje e a Alemanha de Friedrich List em 1841 (04-04-13), mas quando uma fala como essa, desse brasileira exemplar,  Ozires Silva aumentam minhas esperanças, esperanças do verbo esperançar e não do verbo esperar.  
Creio que em algum momento de nossa história nas próximas décadas, esses dois brasis, essa nação vai ter que enfrentar seu passado estamental, entre a “elite marginal” – dia-bólica (aquilo que separa) e a “elite rara” – do sim-bólico (aquilo que une), que simboliza o espírito do povo brasileiro, desde Machado de Assis, passando por inúmeros personagens de nossa literatura na primeira metade do século XX, reunidos no romance de Fernando Sabino, “Encontro Marcado” (1956), mas fato esse que ainda não aconteceu, a nação ainda não encontrou seu caminho, como diria Patativa do Assaré, entre o Brasil de cima e o Brasil de baixo, para construir um futuro diferente de seu passado. Como disse Paulo Francis no século passado, "as universidades pensam mal no Brasil"
Como muitos, tenho um pé atrás, não acredito muito que verei, e adoraria estar errado, mas quem viver verá!
Sds,

Trecho da fala entre 25:55 aos 30:30 min:
(...) “De modo que eu diria para vocês, meus amigos, nós temos respostas para desenvolvimento, ...., pensem grande, quer dizer, não fiquem como cidadão de segunda classe, achando que o hemisfério norte vai resolver os problemas que nós precisamos, isso quer dizer, se nós tivermos problemas para resolver, nós podemos encontrar solução e abrir oportunidades, ....
E nós temos que acreditar que isso pode acontecer, trabalhar, nos graduarmos, irmos para a escola, educação continuada, fazer tudo que for necessário, para que competência necessária, possamos enfrentar a competência mundial, que não é pequena. E todos nós podemos nutrir sonhos, eu imagino fabricar um negócio dessa natureza e achar que outros podem fazer, não, temos que assumir efetivamente a resposta disso, e ser ousado o suficiente no sentido de caminhar, é claro que se a gente tiver uma cooperação da sociedade do governo, coisas dessa natureza, as coisas ficam bastante mais simples. E temos que aproveitar as oportunidades, o temo inteiro ficar martelando, aprendendo, pensando, criando, empreendendo, realizando, não estou falando que os empreendedores são os que fazem só os grandes empreendimentos, multinacional como foi o nosso caso na EMBRAER, mas empreendendo o próprio negócio, criar valor para o trabalho que nós fazemos, dentro da própria empresa, e aonde nós estivermos trabalhando sermos sempre um contribuinte para a inovação, para coisas novas que efetivamente possa ajudar a gente vencer. Temos que vencer essa falha de confiança, o brasileiro não tem muita confiança em si, eu diria, tenham confiança porque o processo de confiança, de criação básica, de que cada empregado nosso, era melhor que empregado da BOING, era difícil enfiar isso nas cabeças das pessoas, hoje se vocês encontrar um colaborador da EMBRAER em qualquer lugar, vai ver o sujeito orgulhoso, um sujeito que sabe o quanto ele vale. E isso não é presunção,..., é algo que é muito bom para que possa crescer. E a cultura de sucesso.
 Nós vemos a nossa mídia só crítica,  um jornal brasileiro que se enrolar, pode até pingar sangue, ou coisa dessa natureza, mas não entre nisso, quer dizer, vamos fazer uma cultura de sucesso, se um amigo nosso consegue alguma coisa que funciona, palmas para ele. A contaminação do sucesso cria uma aura positiva, que pode criar diferenças bastante grande, e cada um de nós pode ser um empreendedor como um centro gerador  de riquezas. Isso é possível, e nós podemos,...., nós temos que ser determinado, lutarmos, mantendo a coragem para inovar e prosperar, eu diria que o Brasil tem esperado demais. Num futuro próximo, eu acho que nós poderíamos mudar esse país, por essa mudança de atitude.
“Aqueles que não pararam, avançaram tanto que jamais poderão ser alcançados”
Frase de uma loja em Bauru, que acompanha Ozires Silva, desde quando era jovem



quarta-feira, 27 de março de 2013

Nicholas Negroponte e a revol. silenciosa: Aprendendo sem Escolas (Learning without Schools)
(a interação coletiva na imagem é reveladora)



"Nós tratamos o saber como um substituto para o aprendizado, mesmo que a nossa experiência diz-nos que é perfeitamente possível saber sobre algo inteiramente, enquanto falhamos em entender o assunto. [...] Então como é que os nossos sistemas de educação e de nossas vidas adultas podem  ser melhor, se nos concentrássemos um pouco menos em medir o que dizemos às pessoas e um pouco mais na compreensão de como eles descobrem?" Nicholas Negroponte: Learning Technologies - Opening Address, UK, March 2013, vídeo).
(We treat knowing as a surrogate for learning, even though our experience tells us that it is quite possible to know about something while utterly failing to understand it. [...] So how would our education systems and our adult lives be better, if we focused a little less on measuring what we tell people and a little more on understanding how they discover?)


Prezados geonautas,
Nicholas Negroponte e a nova revolução silenciosa: Aprendendo sem escola (Learning without schools). Negroponte é um educador bem conhecido no mundo, iniciou seus estudos desde cedo no MIT e continua por lá. Ele está com mais uma revolução silenciosa, “Aprendendo sem Escolas”. Aqui faço um resumo de parte de sua conferência, video em inglês, de Nov. de 2012.
Nos anos 70 Negroponte começou experiência nos EUA a ensinar crianças com programa de computador antes da IBM lançar o “PC”, com o APPLE 2, em 1982 criou no MIT, o MEDIA LAB e a experiência foi para outros países da America Latina, África, Oriente Médio e Ásia. Em 2001 nasceu "One LapTop per Child", com a ambição de U$100 dólares de custo por laptop, ele confessa, chegou-se a U$160.00, mas foi violentamente criticado pelo stablishment do mainstream americano em pleno anos neoliberal e ainda hoje. 
"Nós tratamos o saber como um substituto para o aprendizado, mesmo que a nossa experiência diz-nos que é perfeitamente possível saber sobre algo inteiramente, enquanto falhamos em entender o assunto. [...] Então como é que os nossos sistemas de educação e de nossas vidas adultas podem  ser melhor, se nos concentrássemos um pouco menos em medir o que dizemos às pessoas e um pouco mais na compreensão de como eles descobrem?" Nicholas Negroponte: Learning Technologies - Opening Address, UK, March 2013,vídeo).
(We treat knowing as a surrogate for learning, even though our experience tells us that it is quite possible to know about something while utterly failing to understand it. [...] So how would our education systems and our adult lives be better, if we focused a little less on measuring what we tell people and a little more on understanding how they discover?)
Em 2012, o MEDIA LAB iniciou experimento em duas Vilas na Etiópia com 45 crianças, de diferentes etnias, sem escolas, sem professores, toda população sem alfabetização, sem energia, vilas estilo “Lavoura Arcaica”, as fotos que vocês verão no vídeo explica infinitamente melhor que minhas palavras. As crianças ao receber os TABLETs (energia solar) na caixa, sem nenhuma instrução, os TABLETs estão programados para registrar e armazenar os dados, ou seja, tudo o que acontece quando as crianças começam a mexer nele, quando são acessados,o sistema faz o registro de seu histórico:
- Levou em média 2:30 minutos para abrir a caixa e encontrar o botão para ligar o TABLET
- Em 5 dias eles estavam usando em média 47 Apps (aplicativo) por dia.
- Em 8 dias eles estavam cantando ABC (o alfabeto)
- Em 5 meses eles invadiram (Hackear) o software Andróide
O TABLET possui 5000 mil aplicativos (apps), ele diz claramente que muitos aplicativos foi colocado no TABLETs sem autorização, ele diz “eu roubei” (I stealing) e coloquei no TABLET, em cinco categorias:
- Games
- Books (100 livros para crianças, com recursos vários, como ao tocar na palavra o som do computador faz a pronuncia da palavra em inglês)
- Filmes (com legenda)
- Cartoons
- Programas de linguagem como “Logo”
Foi criado painéis solares no local com equipe de manutenção para prover energia para os TABLETs, e periodicamente os cartões de memória dos TABLETs eram trocados e enviados para MIT MEDIA LAB via FEDEX.
Negroponte esteve pela primeira vez na Vila da Etiópia, um mês antes dessa conferência, ele arisca uma previsão que as crianças irão aprender a ler em dois anos. Negroponte diz que as crianças, 85% delas com os TABLETs , atingem o limite de aprendizagem como se estivessem na escola, mas é um aprendizado individual e coletivo ao mesmo tempo, com seu TABLETS, e como mostra as fotos. “aprender para ler se torna ler para aprender” (Learning to read becoming read to learning)
 E faz uma pergunta provocadora: Se essas crianças aprenderem a ler em dois anos, por quê nossas crianças não conseguem após seis anos de escolas em Nova York ou Boston?
Diferença entre educação e aprendizado (Education and learning), similar entre Banco e economia-finanças, banco é economia, educação é aprender, você não pode ter um bom economista, sem ter um sistema bancário de qualidade. Educação está para o sisema de bncos, assim como aprendizado está para a economia.
Diferença em knowing and understanding (Saber e entender), toda nossa educação é baseado em saber (memorizar as coisas), mas entender é um passo bem mais profundo.
“As meninas geralmente são mais espertas e aprendem mais rápido que os meninos, isso é verdade aqui e em qualquer parte do mundo, meu desejo é que elas dirijam o mundo”
Nos últimos minutos, ele comenta como escolheu alguns países para começar o projeto “One Lap Top per Child”, que incluiu o Brasil, Argentina, Nigéria, Tailândia, Paquistão e Líbia, ele diz, “hoje só o Lula continua no poder”. 

Vídeo de Nov. 2012 

FOSI 2012 - Nicholas Negroponte

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Ckgl31Lz9IQ

Vídeo março 2013: Nicholas Negroponte 

Learning Technologies- Opening Address

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=9K3Vmhjj2Gg

Blog sobre o projeto na Etiópia: http://blog.laptop.org/tag/ethiopia/#.UVL8MRxm8R8
Vídeo do projeto com as crianças:
 http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=yG6nN-YAZhU#!
Livro comentado e sugerido por Negroponte:
Proust and the Squid: The Story and Science of the Reading Brain (by Maryanne Wolf)
The Guadian book review:
A brainy book about reading skills

segunda-feira, 25 de março de 2013

A classe média no mundo em 2030


Carta Capital - Lances e Apostas pág. 42 - 27 de março de 2013 N: 741
Caros geonautas,
Em quinze anos, ou pouco mais, a classe média "consumidora" na Ásia vai aumentar em quase três bilhões de pessoas, a Ásia terá mais de 5 bilhões de habitantes, e a Europa e Amérca do Norte juntas terão aproximadamente 0,9 bilhões de habitantes (0,45 bilhões cada), ou seja, todo população ocidental do hemisfério norte será de classe média. A África será o segundo continente mais populoso, com quase 2 bilhões de Habitantes e a América Latina centro-sul, será o terceiro, com aproximadamente 0,8 bilhões de habitantes.
A pergunta provocadora: Será que o acordo "comercial" que está sendo costurado a toque de caixa entre a América do Norte e a União europeia vai resolver o problema do Ocidente em permanente estado de negação (State of Denial), a decadência da civilização ocidental anglo saxã?
Quem viver verá!
A McKinsey Quarterly tem estudo de 2010, sobre essa evolução da população mundial. O que a ONU divulga agora, com certo "atraso", o atraso compactuado do "sistema-mundo".

domingo, 24 de março de 2013

Peugeot híbrido: carro com motor a gasolina e ar comprimido

The Peugeot Hybrid Air
Prezados geonautas,
Nova mudança de paradigma no cenário automotivo global?
No livro “Arte da Guerra”, o general Chinês demonstra de forma simples e objetiva como se faz para começar uma guerra, diz ele, “uma guerra se começa dando o primeiro passo”.
O carro híbrido da Peugeot nem chega a ser uma grande revolução ou grande inovação, mas uma pequena mudança, mas do ponto de vista de uma nova perspectiva, tem força para se tornar uma grande “mudança de paradigma” e revolucionar o mercado automotivo, porque é uma pequena mudança, uma mudança marginal, mas que não entre em confronto com o modelo de negócio da indústria secular automotiva (que já matou uma vez o carro elétrico nos anos 90), que não é promessa para o futuro como os carros elétricos puros e híbridos elétricos, que para se tornarem viáveis em larga escala ainda dependem dos avanços tecnológicos das baterias de lítios, promessa para o fim da década, segundo o fabricante BETTER PLACE (Shai Agassi propõe um novo modelo de negócio para carro elétrico, interessante vídeo: Bet on the Inevitable: Shai Agassi Sells the Electric Car (CleanTech Summit Investor, Fev. 2013). Segundo informa Shai Agassi na sua palestra, Hoje nos EUA, 3% das vendas são de carros híbridos (no Japão chega a 10%, ver relatório anexo da McKinsey Quarterly- Março de 2013). O PRIUS (1999) da Toyota, levou aproximadamente 15 anos para atingir 1% do mercado nos EUA.
A solução da Peugeot promete ser muito mais econômico em consumo de combustível que o PRIUS da Toyota (o terceiro carro mais vendido do mundo) e com preço de venda bem mais abaixo que o PRIUS (5.000 mil euros a menos que um carro híbrido elétrico PRIUS da Toyota). O carro faz hoje 34 Km por livro de gasolina e eles prometem para 2020, chegar a 50 Km com um litro.
Essa perspectiva de ‘pequena mudança’, guardada as devidas proporções, foi a solução brasileira do Proálcool na década de 1970, mudou o combustível, mas manteve praticamente inalterada a indústria secular automotiva, e assim mesmo provocou reações no mundo contrária a solução brasileira,  reações pejorativas e de piadas com relação a decisão do Brasil em apostar numa energia renovável e não fóssil. Não inventamos o carro a álcool, que data desde o século XIX, mas fomos pioneiros em produção de larga escala de combustível renovável e não fóssil, e ainda assim, quase meio século depois, ainda não temos consciência do fato e de sua importância no mundo, importância fundamental para a mudança de perspectiva na revolução verde do mundo hoje. Essa é a parte da mediocridade da elite entreguista tupiniquim.
Outro ponto importante, essa solução de carro “Air Hybrid” da Peugeot não ameaça a indústria sucro-alcooleira do Brasil, como o carro híbrido elétrico, de forte base asiática.
No anos passado participei de uma pesquisa para saber o potencial do carro elétrico no Brasil para 2020, realizada pela FIA-ProFuturo, anexo o resultado da pesquisa (Relatório para os participantes da Pesquisa Delphi), minha postura na pesquisa foi de uma posição absolutamente cética, pois via uma grande ameaça na solução do carro a álcool do Brasil. além das condições assumida na pesquisa, que no meu ponto de vista, não tinha essa preocupação, esse cuidado com a indústria nacional, por exemplo o item 7 do relatório diz:
"7. Incentivos do governo. Foi sugerido um incentivo de 15% sobre o preço de venda do veículo elétrico. “Incentivos governamentais em conjunto com os setores elétrico e automobilístico” apareceu como a alternativa mais provável de incentivo a veículos elétricos para 2020."
Como o país vai se aventurar em dar incentivo para a instustria de carro elétrico, se sua tecnologia é desenvolvida totalmente fora do país, e conseguentemente ajudar a colocar uma pá de cal, a matar a industria sucro-alcooleira do Brasil?
Quem viver verá, mas vejo com menos ameaça a solução da Peugeot, que serve para carro "FlexFuel" brasileiro.
Sds,

Segue tradução livre (com ajuda do google tradutor com pequenas correções) de artigo do jornal The Guardian de hoje (link do artigo em inglês abaixo):


Peugeot híbrido: carro com motor a gasolina e ar comprimido
Havia uma sensação, quando cheguei em Paris, algumas semanas atrás, que a França estava, se não completamente em colapso, mas certamente a sofrer uma profunda crise existencial. O desemprego tinha atingido 10,6%, e a classificação de crédito do país estava em baixa, no chão. O plano do Presidente François Hollande para super taxar os mais ricos em 75%, tinha enviado alguns dos cidadãos mais famosos franceses para a Bélgica. Em novembro, a capa da Economist mostrou sete baguetes amarradas com as cores da bandeira da França e um pavio aceso saindo do meio. O artigo advertiu: "Sr. Hollande não tem muito tempo para desarmar a bomba-relógio no coração da Europa" (article economist).
A industria automotiva francesa, em particular, estava de joelhos. As vendas mundiais da montadora PSA Peugeot Citroën caíram 8,8% em 2012, o sexto ano consecutivo de queda. Três de seus maiores mercados - Espanha, Itália, Portugal - eram ainda menos interessados em carros novos do que a França. A empresa anunciou planos para reduzir sua força de trabalho francês de 8.000 postos, quase um quinto, ao longo dos próximos dois anos. Trabalhadores responderam com protestos violentos, queimando pneus e corte de cabos de energia.
Nestes tempos de desespero, no entanto, verificou-se uma flor solitária crescendo entre o concreto. Em janeiro, a Peugeot anunciou que havia desenvolvido um carro que roda com ar (comprimido). Ele lançou oficialmente o veículo Air Hybrid para o mundo no Salão de Genebra deste mês, e revelou que estaria em produção até 2016. O carro não apenas roda com ar comprimido, é claro, a nova tecnologia foi geminada com um motor a gasolina. Mas a Peugeot acreditava que tinha vantagens significativas sobre os movidos a bateria elétricos híbridos, como o Prius da Toyota. Seus carros seria mais barato para comprar, para começar, e poupança extra viria de uma economia de combustível, em média, cerca de 81 milhas por galão.
Se a Peugeot poderia sustentar essa ideia, o “Air híbrido” haveria de abalar toda a indústria automotiva de carro. O gigante francês em dificuldades certamente poderia fazer com que seja um sucesso – e a sua sobrevivência no longo prazo vai depender dele.
Em um centro técnico da Peugeot em Carrières-sous-Poissy, a poucos quilômetros a oeste de Paris, dois engenheiros - líderes de projeto Karim Mokaddem e Andrés Yarce - me mostrou um veículo híbrido de ar. De um lado, o carro não parece diferente dos modelos  compactos (hatchbacks) que a Peugeot e Citroën são famosos em construir, mas tinha sido serrado ao meio para melhor ilustrar a nova tecnologia. Mais visivelmente, correndo no meio do trem de pouso, há um acumulador azul, de quatro pés de comprimento - o que Mokaddem chama, com um sorriso irônico, "o tanque de mergulho".
O tanque de aço pressurizado é preenchida com cerca de 20 litros de nitrogênio, mais algum fluido hidráulico. Muito parecido com um Prius, veículos Air híbridos que recupera energia a cada vez que o condutor usa os freios ou desacelera. Mas em vez de usar esta energia cinética para carregar a bateria - como os carros híbridos elétricos fazem - o sistema Air Hybrid tem uma bomba reversível hidráulico que comprime o nitrogênio no tanque e, em seguida, quando da próxima vez que o motorista acelera, a energia acumulada é liberada.
"É basicamente uma seringa" (Yarce pensa na palavra). “O nitrogênio comprime ou descomprime e realmente empurra o óleo e os componentes hidráulicos para transformar essa energia em uma força que faz mover o veículo para frente. É tão simples como isso.”
O sistema não produz grandes quantidades de energia - na verdade, você terá dificuldades para conduzir até um quilômetro antes do motor a gasolina seja forçado a para - mas se você for andar em torno da cidade, parando e acelerando o dia todo, então a economia de combustível pode ser significativo. "Chamamos o protótipo de carros Kiwi. Um, Dois Kiwi, etc, porque a quantidade de energia armazenada dentro do tanque de mergulho é exatamente a mesma quantidade que você encontraria em um kiwi", explica Mokaddem.
Outra vantagem sobre os híbridos já existentes no mercado é que os novos carros da Peugeot não necessitam de uma bateria de íons de lítio caro ou motor elétrico, o que significa que eles vão começar a partir de £ 17.000. Isso é quase £ 5,000 a menos de um Prius. As peças são simples e de fácil manutenção, fato que seria atraente nos mercados emergentes da China, Índia e Rússia.
Para todo o interesse que a Air híbrido tem inspirado - tanto positivas quanto cético - os engenheiros da Peugeot estão ansiosos para minimizar a idéia de que é uma solução radical. Eles reconhecem que a idéia de sistema hidráulico híbrido tem sido conhecido por anos. A UPS roda desde 2009 com uma frota de vans de entrega, que usam fluido hidráulico pressurizado - em vez de nitrogênio - que converte energia de frenagem em impulso para a frente. Ele tem benefícios claros para qualquer veículo que precisa fazer paradas regulares, como limpadores de rua ou um ônibus escolar.
"Eu não vou dizer que isso é uma verdadeira inovação, com certeza não", diz Mokaddem, como nós estamos debaixo de um outro veículo Air Hybrid, seu tanque visível azul que lembra os dutos de ar do Centro Pompidou. "Fizemos uma nova caixa de velocidades, com certeza, mas os componentes são conhecidos componentes, e a inovação é como nós os colocamos juntos para tornar o carro mais eficiente."
"É colocá-los juntos no caminho certo", concorda Yarce. "É basicamente como peças de Lego."
É claro que, se a idéia de correr em um carro de nitrogênio foi tão óbvio, então alguém teria se desenvolvido completamente antes. Mas talvez o aspecto mais surpreendente da nova tecnologia é que ele foi revelado pela Peugeot, uma empresa que celebrou o seu 200 º aniversário em 2010, e não foi conhecido, nos últimos tempos, certamente, pelo pioneirismo de P & D.
"É verdade que hoje o mercado é dominado - no lado híbrido, com certeza - pela tecnologia da Ásia, que é a realidade", aceita Mokaddem. "Por isso, foi um pouco inesperado para um fabricante europeu de automóveis para desenvolver essa nova abordagem. Porquê? Eu não sei".
O desenvolvimento do Peugeot “Air hybrid”, foi necessário reformular totalmente a sua abordagem ao desenvolvimento de produtos. O projeto, que foi iniciado em 2010, foi trabalhado por uma equipe de cerca de 100 pessoas totalmente em sigilo. Eles tomaram esta última parte muito a sério: Mokaddem não poderia revelar todos os detalhes, até mesmo para sua esposa e filhos. "Eles pensaram que eu havia me tornado um espião", ele brinca. Com um pequeno número de funcionários que trabalham no projeto, e pouca hierarquia, a intenção era criar - no âmbito da segunda maior montadora da Europa - uma unidade com a energia e a empresa de um arranque (iniciante).
Desde o início, a equipe foi encorajado a pensar de uma "inovação disruptiva". O termo vem do livro de professor de Harvard Clayton Christensen, Dilema do Inovador, e descreve uma tecnologia que não apenas alterar o mercado, mas cria um sistema totalmente novo. Uma inovação incremental, por exemplo, iria evoluir uma navalha de duas lâminas em uma de três pás, uma inovação disruptiva saltará de discos compactos para o iPod, ou de volumes de enciclopédias a Wikipedia.
Quando eles decidiram se concentrar em economia de combustível, Mokaddem encorajou seus colegas engenheiros de reconsiderar um carro de primeiros princípios. Eles foram empurrados para pensar escandalosamente. O protótipo original para a “Air hybrid” emprestou a parte hidráulica de um jato Airbus. O barulho que fez era insuportável, mas quando o carro superou a frente alguns metros, a equipe sabia que eles estavam em alguma coisa interessante. Em última análise, eles se adaptaram partes mais comumente encontradas em elevadores e tratores.
Desde o seu lançamento, o projeto Air híbrido tem provocado reacções extremas e, por vezes histérica. Um comentário em um fórum on-line preocupado que a presença do acumulador era como dirigir ao redor sob "uma bomba de ar comprimido". Ambos Mokaddem e Yarce caíram na gargalhadas quando eu coloquei isso para eles. "Levamos em conta tiros, fogo, muitas situações estranhas - o sistema não vai explodir e nós testamos isso", diz Yarce. "Estamos totalmente confiantes hoje que não há riscos de segurança."
Outra preocupação foi um mal-entendido de que o carro poderia "ficar sem ar".
"O ar é isolado dentro (é um circuito fechado), de modo que sempre temos ar dentro do carro", explica Yarce. "É apenas uma questão de saber se ele é comprimido ou não. Claramente, o sistema é baseado em um motor de combustão a gasolina, então você precisa de gasolina para comprimir o ar pela primeira vez. E, bem, se você não tem qualquer tipo de combustível, você claramente não será capaz de se mover - que é o mesmo que um carro normal ".
Será um par de anos antes de descobrir se a Peugeot pode realizar plenamente a promessa do carro “híbrido a ar”. Os engenheiros precisam trabalhar mais os freios e sistema hidráulico e eles finalmente acreditam que podem alcançar 117mpg em 2020. Se ele podem derrubar um caro híbrido elétrico estabelecido como a Toyota, só o tempo dirá.
Mas, por agora, o projeto pelo menos, tem alguma esperança tão necessária para uma empresa sitiada e sua força de trabalho precário. "PSA Peugeot Citroën tem de levantar-se e mostrar que ainda estão vivos", diz Mokaddem. "Que nós temos idéias e podemos nos diferenciar. Somos parte de uma nova geração que está dizendo," Nós somos uma empresa com 200 anos de história, mas nós ainda somos jovens. "Nós não vamos morrer. "
• Este artigo foi alterado em 24 de março de 2013 a corrigir duas menções de hidrogênio em nitrogênio

Peugeot's Hybrid Air: the car of the future that runs on air
It will be cheaper than a Toyota Prius, do more than 80 miles to the gallon and could completely shake up the car industry. The Peugeot engineers behind the Hybrid Air reveal that they couldn't even tell their families about the top-secret project
http://www.guardian.co.uk/environment/2013/mar/24/peugeot-hybrid-air-car-future?CMP=twt_gu

sábado, 23 de março de 2013


Tão perto, tão longe: Adoniran Barbosa e Cartola. Fotos: CEDOC FPA/Reprodução

NO BIXIGA COMO NA MANGUEIRA

As semelhanças entre Adoniran Barbosa e Cartola e seus mundos




http://albumitaucultural.org.br/secoes/no-bixiga-como-na-mangueira/
# Publicada originalmente na Revista Continuum de jan-fev de 2010
Nomes consagrados da música brasileira, Cartola e Adoniran Barbosa cantaram dois universos que ainda hoje vivem e sambam de modos distintos. A vida desses músicos centenários (ou quase) foi diferente, mas surpreendentemente parecida em alguns aspectos. Eles eternizaram em suas canções cenas cotidianas e histórias que são como flashes de um Brasil em industrialização. Cartola, negro carioca, retratou os morros do Rio de Janeiro; Adoniran, paulistano de origem italiana, revelou ao país o bairro do Bixiga, em São Paulo.
Meninos criados em pobrezas semelhantes, Cartola nasceu Angenor, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, em 1908. Aos 10 anos, mudou-se para o Morro da Mangueira por causa de problemas financeiros da família. Adoniran nasceu João em 1912, no interior paulista de Valinhos, e acompanhou a família em busca de melhoras financeiras por Jundiaí, Santo André e finalmente São Paulo. Aos 10 anos, sua certidão de nascimento foi alterada para 1910. Dessa forma, pôde começar a trabalhar.
A necessidade de trabalho levou os dois músicos a abandonar a escola cedo e percorrer longas trajetórias no mercado, antes de se firmar como compositores.
Cartola foi pedreiro, ofício em que usava um chapéu-coco para se proteger do cimento, o que lhe rendeu o apelido. Tipografista, vigia noturno, lavador de carros, contínuo, zelador e dono de boteco (o mítico bar Zicartola) foram outras de suas profissões. Tentou a sorte na rádio. Além do samba, viveu predominantemente de bicos.
Adoniran foi entregador de marmitas, ofício no qual aprendeu matemática subtraindo bolinhos para matar a fome. Pintor, encanador, tecelão e metalúrgico foram outras de suas profissões. Tentou a sorte como ator e cantor. Além do samba, fez carreira como humorista de rádio, e só na Record trabalhou por mais de 30 anos.
Os dois sambistas deixaram registrada participação no cinema.

A mulher amada
Na vida amorosa, também traçaram trajetórias simétricas. O primeiro casamento curto, e a descoberta da companheira que tiveram ao lado até o fim da vida no segundo matrimônio. Cartola com Euzébia, a Dona Zica, e Adoniran com Matilde.
Para Zica, Cartola compôs o samba-canção “Nós Dois”, que celebra a união do casal.
“Seremos felizes depois
Nada mais nos interessa
Sejamos indiferentes
Nós dois, apenas dois
Eternamente”
Para Matilde, Adoniran compôs, com Oswaldo França, “Joga a Chave”, que transformou em piada um incidente do casal.
“Joga a chave meu bem
Aqui fora tá ruim demais
Cheguei tarde perturbei teu sono
Amanhã eu não perturbo mais”
Já senhores, no mesmo ano de 1974, os dois gravaram o primeiro LP da carreira. Seguiram com mais quatro discos e um relativo êxito tardio, que permitiu um fim de vida tranquilo, mas distante da abastança.
O operário e o malandro
Ouvir Cartola e Adoniran é revisitar dois contextos urbanos e mergulhar em muitos dos seus costumes. Entre um breque e outro, vê-se o mesmo Rio de Janeiro boêmio e a mesma São Paulo apressada dos dias de hoje. Vê-se a alegria de cantar a favela em que se vive ou a agonia de uma ordem de despejo.
“Habitada por gente simples e tão pobre
Que só tem o Sol que a todos cobre
Como podes, Mangueira, cantar?”
“Sala de Recepção” (Cartola)
“Quando o oficial de justiça chegou lá na favela
E contra seu desejo entregou pra seu Narciso
Um aviso pra uma ordem de despejo
Assinada seu doutor, assim dizia a petição,
Dentro de dez dias quero a favela vazia
E os barracos todos no chão.
É uma ordem superior”
“Despejo na Favela” (Adoniran Barbosa)
Vê-se um chamado ao amor para ficarem juntos até amanhecer e a pressa da despedida de quem não pode perder o último trem.
“É impossível nesta primavera, eu sei
É impossível, pois longe estarei
Mas pensando em nosso amor, amor sincero
Ai! se eu tivesse autonomia
Se eu pudesse gritaria
Não vou, não quero”
“Autonomia” (Cartola)
“Não posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito, amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã”
“Trem das Onze” (Adoniran Barbosa)
Vê-se um operário paulistano e um malandro carioca, ou o inverso. Como a malandragem mal-sucedida narrada por Adoniran no samba “No Morro do Piolho”, cuja autoria assina com o pseudônimo de Peteleco, em parceria com Carlos Silva e Jacob de Brito:
“Me elegeram para ser governador
Lá do Morro do Piolho
Onde eu sou fundador
Por muitos votos eu ganhei a eleição
Pra ver se eu fui eleito
Por panela de pressão
A Pafuncinha foi quem se admirou
- Como é que esse malandro teve a consagração?”
Ou ainda a injusta vida do trabalhador, revelada por Cartola em “O Samba do Operário”, que compôs com Alfredo Português e Nelson Sargento:
“Se o operário soubesse
Reconhecer o valor que tem seu dia
Por certo que valeria
Duas vezes mais o seu salário
Mas como não quer reconhecer
É ele escravo sem ser
De qualquer usurário”
O avesso do avesso
Mas, se os estereótipos atribuídos pelo imaginário popular são um Rio de Janeiro leve e alegre ante uma São Paulo resmungona e infeliz, Cartola e Adoniran, de certa forma, os inverteram, sendo o compositor carioca quase sempre mais triste e melancólico e o paulista geralmente mais bem-humorado e divertido. Assim, Cartola é mais lembrado pelo lirismo e Adoniran pela sátira.
Para o jornalista Pedro Alexandre Sanches, autor de Tropicalismo: Decadência Bonita do Samba (Boitempo, 2000), entre coincidências e disparidades, os sambistas se complementam. “Eles fizeram da identidade de origem um dos elementos centrais da suas obras. Mas a coincidência máxima, acredito, é virem de famílias humildes. Como é comum em quem vem dos estratos mais baixos da sociedade, nada foi fácil para eles, nunca, e prova disso é a demora na consolidação e no reconhecimento no ofício de sambistas”, observa.
Poeta e músico do grupo Cordel do Fogo Encantado, Lirinha é morador de São Paulo e escolhe a trilha sonora de Adoniran para sua experiência. “Enquanto um chama a mulher que ama de ‘minha romântica senhora tentação’, o outro diz para ela ter cuidado ao atravessar a rua. Identifico-me mais com a fala de Adoniran, o jeito que ele canta horário, pressa, pressão, carro, metrô, elevador, trabalho”, observa.
Nascido em Niterói, o músico Marcos Sacramento já gravou Adoniran e Cartola e destaca que são artistas que contrastam em diversos aspectos para se encontrarem no samba. “Identifico neles tanto contrastes quanto identidades. Acho que os dois sofreram profunda influência do meio social onde viveram e seguiram caminhos diferentes, mas se encontraram no samba, como na parceria de Adoniran com Vinicius de Moraes ‘Bom Dia Tristeza’ (‘Se chegue, tristeza/Se sente comigo/Aqui, nesta mesa de bar/Beba do meu copo/Me dê seu ombro’…)”, comenta.
Clássico e irreverente
O uso da língua portuguesa pelos artistas aponta para caminhos distintos. Em Cartola, tem tempero clássico, obedecendo à norma culta, com a esquecida segunda pessoa do singular, tu, e vocabulário erudito. Em Adoniran, tem registro irreverente, copiando a fala do imigrante italiano, com a primeira pessoa do plural, nós, e os verbos no singular, gírias e palavras grafadas na pronúncia popular.
“As letras bem-elaboradas e o refinamento de Cartola refletem o que buscavam os sambistas cariocas para ser aceitos e respeitados. Adoniran não seguia essa linha”, esclarece o cineasta e roteirista Hilton Lacerda, codiretor do documentário Cartola – Música para os Olhos (Hilton Lacerda e Lírio Ferreira, 2007).
“Adoniran é cronista dos costumes impregnado pela cultura dos imigrantes. Cartola é lirismo, poesia refinada”, completa Sacramento.
Caminhos cruzados
Cartola e Adoniran Barbosa dividiram o palco do Teatro 13 de Maio, no bairro do Bixiga, em 1977, com outros sambistas de renome. Também partilharam parceiros de estrada. Um exemplo foi Radamés Gnattali, que em 1976 fez o arranjo e o acompanhamento ao piano da gravação de “Autonomia”, de Cartola; e, quatro anos depois, com Adoniran, fez a trilha sonora do filme Eles Não Usam Black-Tie (Leon Hirszman, 1981).
Os dois músicos se despediram dos palcos no mesmo local, no Ópera Cabaré, em São Paulo. Lá, Cartola cantou pela última vez em dezembro de 1978 e Adoniran em março de 1979. Nesse mesmo ano, foi lançado pela RCA Victor o LP Cartola 70 Anos. No ano seguinte, a EMI-Odeon lançou o LP Adoniran Barbosa – 70 Anos.
Os shows do Ópera Cabaré foram lançados em discos póstumos, Adoniran Barbosa ao Vivo e Cartola ao Vivo, em 2000, pela gravadora Kuarup. Da vida ambos se despediram aos 72 anos de idade. Cartola, em 1980, vítima de câncer; Adoniran, em 1982, de enfisema pulmonar. Os dois foram fumantes.



"Ex-Isto" - CATATAU, Paulo Leminski



- “... usque consumatio doloris legendi” (leitura penosa até a consumação)

Publicado em 29/08/2011: Em "Ex-Isto", Cao Guimarães faz um adaptação ousada de Catatau, intercalando trechos do livro a cenas em que o ator João Miguel, na pele de Descartes, vaga entorpecido pelas selvas tropicais e pelas ruas atuais de Recife e Brasília.


REPUGNATIO BENEVOLENTIAE:
Me nego a ministrar clareiras para a inteligência deste catatau que, por oito anos, agora*, passou muito bem sem mapas. Virem-se.
* vide “Jornal do Escritor” (n° 6, nov. de 1969, Rio de Janeiro), onde tiveram lugar o lançamento oficial da idéia, entrecho e amostragem das primeiras do “ Catatau”. (Página 10, Edição 2004:):

ORELHAS DO LIIVRO
APRESENTAÇÃO
Décio Pignatari
O Catatau, de Paulo Leminski, figura entre aquelas obras literárias que, de saída, destinaram-se a um público vertical, embora, na orgulhosa soberba de quem sabe e sente que acabou de produzir um romance marcante, afirmasse, na abertura do livro, que
o próprio (desde a publicação dos primeiros fragmentos em periódicos da época) vinha passando “muito bem sem mapas” e que se negava a “ministrar clareiras para a Inteligência”. E finalizava a incisiva nota: “Virem-se”.
Catatau faz trinta anos no ano que vem. Infelizmente, como era de te-mer-se, se não de esperar-se, suas escassas edições até o presente não confirmaram o otimismo do autor quanto ao “passar bem” da obra, no que se refere ao número de leitores... horizontais.
Explico-me e adianto que, antes de mais nada, lanço mão de algumas noções simples da Teoria da Informação, tão simples que beiram até o óbvio, embora, quando projetadas numa tábua de valores, sejam de pronto rejeitadas por boa parte daqueles que as têm, de início, na conta de verdades triviais. Entenda-se por informação o teor de surpresa ou raridade dos signos postos em jogo.
No caso da obra de arte, porém, trata-se de surpresa ou raridade qualitativas, e não simplesmente quantitativas ou mensuráveis. São vários e variáveis os parâmetros que se manifestam ou exibem no espectro ou leque da raridade ou inovação artísticas, e deles se tem ocupado, direta ou indiretamente, a crítica literária dos últimos dois séculos, período em que ela se institucionalizou no universo cultural.
Vamos a exemplos. Coelho Neto aciona em sua obra de ficção um léxico dicionarizado riquíssimo (cerca de vinte mil vocábulos), se comparado ao acervo vocabular contido de um Machado de Assis, de Memórias póstumas de Brás Cubas, ou de Oswald de Andrade, de Memórias sentimentais de João Miramar. No entanto, não lhes chega aos pés, porque essa pedraria verbal logo perde o brilho por engastar-se num diagrama, sintático-narrativo, de metal barato, banal e redundante. Visa a efeitos, não a eficácia. Grandes e ricos também são os baús verbais de Joyce, em Ulisses, ou de Guimarães Rosa, em Grande Sertão, repicando entre o oral e o escrito, e cujos conteúdos são despejados e distribuídos numa rede relacional narrativa sempre surpreendente. Levando-se em conta as condições socioculturais diversas, o aclamado “príncipe dos prosadores brasileiros” foi um best-seller em sua época, mais lido do que, juntos e somados, o grande Machado, o grande Oswald e o grande Rosa (grande, aqui, em função de suas obras-pico). Em registro paralelo, e mais direto: quantos, no Brasil, lêem, de verdade, anualmente, Os lusíadas? Ponhamos: quinhentos leitores. Em projeção para um século: cinqüenta mil. Vinícius de Morais talvez chegue a esse número numa década. Mas poesia é um gênero difícil... Na época atual, vários escritores ficcionais brasileiros têm mais de cem mil leitores anuais. Quantos terão em 2054?
Emily Dickinson (1830-1886) escreveu 1.775 poemas, só publicou sete em vida, e perguntava: “Is Heaven a physician?”.
Redescoberta e recuperada pelo tempo, algumas décadas depois da morte, foi projetada no rol dos grandes poetas da língua inglesa do século XIX. Seria o tempo um grande crítico justiceiro? Pode-se dizer que sim, com algumas exceções estranhas (o caso de Sousândrade, p. ex.) — mas não por mera inércia de relógios e calendários. É que obras difíceis e intrigantes, em culturas progressivas e não apenas sucessivas, sempre acabam por atrair mentes perscrutadoras, que põem em causa os critérios vigentes de avaliação, o que não ocorre normalmente com obras tacitamente e prazerosamente acolhidas.
Redescoberto e reposto em circulação, seu teor informacional ganha a vida que, muita vez, nem chegou a ter.
Paulo Leminski como que seguiu à risca o libreto do seu destino inscrito na palavra catatau, que quer dizer, a um só tempo, pequeno e grande. Primeiro, fez o grande, o difícil, o vertical — esta obra que lhe tomou oito anos de dedicação, fervor e sofrimento.
Saído do deslumbrante inferno criativo, voltou à superfície para rever as estrelas, tal anti-Eurídice a chamado de Orfeu: inferno, nunca mais! E pôs-se, com gosto e desenvoltura, a realizar a segunda parte de sua missão, a tarefa propriamente poética, que lhe trouxe a merecida fama e o imerecido e cruel julgamento existencial dos fatos.
Possa este mapa, que não queria ver cartografado, levar e elevar o seu Catatau aos campos elíseos literários do que de mais instigante e original se produziu no passado século brasileiro. Nascido de um projeto que apresentei à Fundação Cultural de Curitiba, em 2001, na qualidade de consultor de Literatura, muitas mãos e empenhos traçaram este mapa, incluindo os dirigentes da instituição, os assistentes da área, os pesquisadores, os herdeiros, o editor, seus designers e assessores.
Curitiba, agosto de 2004.

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http://www.itaucultural.org.br/iconoclassicos/filme2.htm

Paulo Leminski


Poeta, romancista e tradutor. Paulo Leminski Filho nasceu em Curitiba, Paraná, em 1944. Aos 12 anos, ingressou no Mosteiro de São Bento, onde adquiriu conhecimentos de latim, teologia, filosofia e literatura clássica. Em 1963, viajou para Belo Horizonte para participar da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, onde conheceu Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, criadores da poesia concreta. No ano seguinte, publicou seus primeiros poemas na revistaInvenção, editada pelos concretistas, e tornou-se professor de história e redação em cursos pré-vestibulares, experiência que motivou a criação de seu primeiro romance, Catatau (1976). Foi diretor de criação e redator em agências de publicidade. A paixão pela cultura japonesa o levou a escrever haicais e uma biografia de Matsuo Bashô. O interesse pelos mitos gregos, por sua vez, inspirou a prosa poética Metaformose. Exerceu intensa atividade como crítico literário e tradutor (traduzindo para o português obras de James Joyce, Samuel Beckett, Yukio Mishima, Alfred Jarry, entre outros), colaborou com revistas de vanguarda comoRaposa, Muda e Qorpo Estranho, e faz parcerias musicais com Caetano Veloso e Itamar Assumpção, entre outros. Em 1968, casou-se com a poeta Alice Ruiz (1946), com quem viveu por 20 anos e com quem teve três filhos: Miguel Ângelo (que morre aos dez anos de idade), Áurea e Estrela. Em 7 de junho de 1989, morreu vítima de cirrose hepática.

Cao Guimarães


Cineasta e artista plástico, nasceu em 1965 em Belo Horizonte, onde vive e trabalha.
Desde o fim dos anos 1980, exibe seus trabalhos em museus e galerias como Tate Modern, Guggenheim Museum, Museum of Modern Art NY, Gasworks, Frankfurten Kunstverein, Studio Guenzano, Galeria La Caja Negra e Galeria Nara Roesler. Participou de bienais como a XXV e XXVII Bienal Internacional de São Paulo e Insite Biennial 2005 (San Diego/Tijuana). Alguns de seus trabalhos foram adquiridos por coleções como Fondation Cartier Pour L’art Contemporain, Tate Modern, Walker Art Center, Guggenheim Museum, Museu de Arte Moderna de São Paulo, MoMA NY, Instituto Cultural Inhotim, entre outros.
Seus filmes participam de importantes festivais de cinema como Locarno (2004, 2006 e 2008), Mostra Internazionale d'Arte Cinematografica di Venezia (2007), Sundance Film Festival (2007), Festival de Cannes (2005), Rotterdam International Film Festival (2005, 2007 e 2008), Festival Cinema du Réel (2005), Festival Internacional de Documentários de Amsterdam – IDFA (2004), Festival É Tudo Verdade (2001, 2004 e 2005), Las Palmas de Gran Canaria International Film Festival (2008), Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (2004 e 2006), Festival do Rio (2001, 2004, 2005, 2006), Sydney International Film Festival (2008), entre outros.